"o grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar."


sócrates

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

SIMPATIA, EMPATIA E ANTIPATIA




Foto da Internet.

Por Gérson Alves da Silva Jr.

Você quer ser amigo de seu filho e nota que sempre que exige as coisas dele ele se afasta ou acaba antipatizando com você? Você é professor e percebe que simplesmente por cumprir seu papel de docente de forma integra e correta, cobrando o bom desempenho dos alunos, estes acabam vendo você como antipático? Você é visto como antipático, simpático ou empático e não compreende muito bem o porquê? Este texto foi produzido especialmente para responder a estas inquietações.

“Os espíritos semelhantes se aproximam” afirma um antigo provérbio indicando que há uma tendência a um relacionamento mais íntimo entre aqueles que possuem características e gostos semelhantes. O processo de gostar do outro por características difíceis de serem identificadas, como se fosse atração energética, chama-se simpatia.

Simpatia é um vocábulo latino (sympatha) que possui raízes no grego. Literalmente significa sofrer com ou sofrer junto de. Enquanto origem grega e latina o termo diverge de empatia que significa etimologicamente em sofrimento. Na atualidade, a psicologia moderna emprega o termo simpatia para a emissão de comportamentos favoráveis a outrem e o termo empatia para a capacidade de se observar como estando no lugar do outro enquanto este passa por processos aversivos ou prazerosos. Nesta mesma configuração, etimologicamente antipatia seria não padecer com a dor do outro. Em termos psicológicos antipatia representa não se importar com o outro de modo a apresentar comportamento aversivo para este, como indica a expressão popular brasileira de base afro-ameríndia: “meu santo não bateu com o dele”.

O que será que governa este processo que determina gostarmos de umas pessoas e detestarmos outras logo nos primeiros contatos? O que será que existe em algumas pessoas que parecem nos compreender e se sentirem no nosso lugar? Por que outras pessoas parecem simplesmente incapazes de se colocarem no lugar de outras?

Muitas respostas foram pensadas para a primeira pergunta desde épocas imemoriais e nas mais diferentes culturas. Na obra de Platão (428-348 a.C.) intitulada “O Banquete”, vemos uma profunda e prolongada discussão sobre o amor em que se apresenta explicações para o fato de algumas pessoas se sentirem atraídas por outras. Teóricos gregos, escreve Platão, lançam a proposta de uma união primitiva no plano da criação, em que estes seres foram cortados ao meio pelos deuses e então vivem a buscar sua outra metade. Muitos ainda hoje acreditam que quando conhecem alguém e relatam sentir grande afeto, isto ocorre por ser um encontro destas metades. Sócrates (469-399 a.C.), apresentado por Platão, diverge desta opinião e afirma existir no ser humano uma tendência a buscar o “bom” e o “belo”. Depois de longa prelação ele convence a todos de que o amor na verdade é uma falta, uma carência, por isto quem ama vive buscando no outro aquilo que lhes falta.

O mundo oriental e posteriormente a psicanálise de Sigmund Freud (1856-1939), apresentaram a proposta de que os opostos se atraem. Esta proposta encontrou grande visibilidade principalmente por ser na época a que melhor explicava atrações exóticas que o cinema explorava. A Dama e o Vagabundo (1955) – produzido pelos estúdios de Walt Disney a partir da obra de Ward Greene – é um bom exemplo deste antagonismo que se atrai explorado pelo cinema. Entretanto, a moderna investigação científica no campo da psicologia apontou para explicações diferentes das apresentadas pela psicanálise e pelas discussões encontradas na obra de Platão.

O primeiro a oferecer subsídios modernos para o novo modelo de entendimento foi o russo Ivan Pavlov (1849-1936). Pavlov descobriu que estímulos que não ativam nenhuma reação em um organismo, quando são emparelhados com outros estímulos, que provocam certas respostas, passam a possuir as propriedades destes segundos. Assim, por exemplo, uma pessoa que lhe agride durante a infância e usa um determinado perfume, irá provocar uma alteração no seu organismo de tal forma que, mesmo anos depois, ao ver uma outra pessoa que use o mesmo perfume você poderá sentir as mesmas reações desagradáveis que lhe ocorreram durante a agressão. O perfume antes era neutro e passou a provocar reações desagradáveis devido à associação com a agressão. O mais interessante é que as propriedades agora aversivas do perfume podem passar para uma pessoa que o utilize.

Este modelo explicativo criado a partir das pesquisas de Pavlov foi bastante ampliado e passou a comportar a base inicial das explicações científicas da psicologia. Era mais racional e lógico supor que as simpatias e antipatias possuíam alguma relação com a história de vida das pessoas do que imaginar que os afetos e desafetos eram resultantes de rivalidades ou paixões de vidas passadas ou processos sobrenaturais.

Posteriormente, com o advento dos estudos de neuroimagens, descobriu-se que os condicionamentos pavlovianos ocorriam em áreas cerebrais (áreas límbicas e cerebelo, por exemplo) em que a memória não é declarativa. Em outras palavras, o organismo reage, mas não consegue explicar sempre o porquê de suas reações. Assim, amamos ou odiamos por associações, mas não conseguiríamos explicar, na maior parte dos casos, o porquê de reagirmos desta maneira.

Todavia, este processo de condicionamento pavloviano apresentava o homem como um autômato, uma máquina. A partir desta realidade seríamos meros frutos de associações, como muito bem ilustra o famoso filme de Stanley Kubrick “Laranja Mecânica”. Um grupo de cientistas começa, então, a perceber que poderia haver processos mais complexos que a mera associação de estímulos para explicar os gostos e os afetos de modo geral. Surge daí os estudos do impacto das consequências sobre o comportamento humano.

Skinner (1904-1990) foi o teórico mais proeminente desta nova proposta. Skinner traz a proposição de que diante de determinadas situações apresentamos uma resposta, mas é o efeito desta resposta no ambiente que irá determinar como iremos nos comportar no futuro. Quando o organismo apresenta uma resposta a uma determinada situação e a consequência é reforçadora este organismo tenderá a apresentar mais vezes este padrão comportamental. Este processo foi muito bem comprovado experimentalmente e a partir dele surgiram outros processos que foram sendo melhor investigados. Por exemplo, o custo de resposta que também recebe o nome de economia de esforço.

O custo de resposta indica que todo comportamento, toda reação do organismo, implica em algum desgaste, assim o organismo só emite determinadas respostas a depender das consequências e das operações estabelecedoras. Há sempre uma probabilidade maior do organismo emitir respostas mais curtas e mais simplificadas, que gerem menor desgaste e esforço, para poder obter certas consequências. É graças ao custo de resposta que o organismo tende a se utilizar das aprendizagens que já possui ao invés de formular novos padrões de comportamento. Este processo do custo de resposta aliado ao estudo das consequências sobre o organismo trouxe-nos muita base para compreender a maior parte das lacunas que precisávamos para entender a simpatia, a empatia e antipatia.

A partir deste processo pode-se formular uma compreensão mais abrangente e fundamentada na realidade para entendermos o que acontece para termos uma maior tendência a nos afinarmos mais com determinadas pessoas e termos animosidades com outras. Na realidade, percebeu-se que o processo não está diretamente ligado ao fato de sermos semelhantes ou de sermos diferentes e antagônicos. O processo, na verdade, se desenrola pelo fato da pessoa com que lidamos exigir ou não exigir novos padrões e posturas comportamentais de nossa parte. Em outras palavras, quando lidamos com uma pessoa que tende a aprovar nossos padrões e posturas comportamentais, iremos com frequência apresentar maior facilidade de nos afeiçoarmos por esta pessoa. Do mesmo modo, quando alguém tende a exigir novos padrões comportamentais e desaprovar os que apresentamos, iremos tender a desenvolver antipatia.

É por isso que quase sempre achamos simpáticos os vendedores que são sorridentes, atenciosos e procuram nos servir de todas as formas, inclusive procurando reduzir ao máximo o preço dos produtos para nós. Pela mesma razão que tendemos a gostar dos vendedores como o descrito acima, tendemos a antipatizar com professores exigentes. Essa antipatia com os exigentes ocorre principalmente por eles exigirem novos padrões comportamentais de nossa parte e como vimos o custo de resposta é alto para isso. Como o custo de resposta é alto para mudança comportamental todos aqueles que exigem mudanças podem ser vistos de forma aversiva.

Assim, os pais exigentes e que cumprem seus papeis de educadores sabem que nem sempre é possível ser amigo de seus filhos, pois esta amizade não se torna interessante em muitos casos da parte deles, devido à exigência de mudança que precisa ser colocada para o próprio desenvolvimento destes.

Entender a simpatia e a antipatia a partir desta perspectiva é muito mais coerente e compatível com a realidade, porém para aqueles que não antipatizaram com o texto até aqui (devido o tamanho que demanda um alto custo de resposta), vejamos se não passam a antipatizar a partir do momento que analisarem situações concretas, por perceberem que este novo modelo exige muito mais elaboração para compreendermos o que se passa no real. Pois, agora a simpatia e antipatia não dependem de forças ocultas e sobrenaturais ou de características contrárias. Agora ela depende da maneira que respondemos as emissões comportamentais do outro. Como coloca a antiga proposta de marketing pessoal: "quer parecer bonito e inteligente para as pessoas? Concorde com elas!" Aparentemente até o bom e o belo de Sócrates, depende de arranjo de contingências. 

Será que a empatia também responde a este processo da mesma forma? Esta sim foi muito bem estudada e discutida por inúmeros teóricos, mas, sem muitas delongas, também podemos afirmar que também é possível entendê-la a partir dos mesmos princípios acima. A única divergência é que, embora para que haja simpatia não precisemos tanto da semelhança, na empatia este ponto é mais gritante. Isto ocorre porque é muito menos custoso para nós nos colocarmos no lugar daqueles ou daquilo que se assemelha a nós ou nossa realidade. Mesmo as áreas frontais (neurônios espelhos) estão governadas por estes princípios. Assim, pessoas que apresentam em seus discursos ou comportamentos histórias de vida, situações ou trejeitos comportamentais, semelhantes aos que vivemos e apresentamos, nos levam mais facilmente a compreensão de como é o lugar delas. Isto no passado chamava-se identificação, hoje sabemos que é mero resultado de certos estímulos discriminativos e do trabalho de áreas especializadas do cérebro para facilitar nossa adaptação e economizarmos esforços.

De posse destas informações e com disposição para não sermos muito econômicos em nossas respostas, poderemos ter uma clareza maior de nossos papéis na relação com o outro enquanto pais, esposos(as), professores(as), etc. entendendo que nem sempre é possível sermos simpáticos (principalmente quando exigimos mudanças). Todavia, se a simpatia nos escapa por sermos exigentes, podemos gerar certas empatias com tecnologias que aproximam nossa realidade da realidade do outro. Paulo Freire (1921-1997) fez isso sem conhecer a Análise do Comportamento. Os Analistas então podem fazer muito mais entendendo de maneira bem detalhada princípios como estímulos discriminativos, reforços, custo de resposta, dentre outros. Ganhemos, pois então, o mundo visto que mesmo nos achando antipáticos, nos restará sempre a empatia.

Assim eu analiso, assim eu conto para vocês.

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